Paulo e o Antigo Testamento – John Stott

A referência de Paulo, em Romanos 15, ao cumprimento em Cristo do salmo 69.9, leva-o a fazer uma breve digressão sobre a natureza e o propósito do AT: "Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança" (v. 4). A partir dessa afirmação cuidadosa, é legítimo deduzir cinco verdades sobre as Escrituras, que faríamos bem em lembrar.

Primeirosua intenção contemporânea. Os livros das Escrituras foram, obviamente, dirigidos basicamente àqueles homens para quem elas foram escritas no passado. Contudo, o apóstolo estava persuadido de que elas também foram escritas para nos ensinar.

Segundoseu valor inclusivo. Ao citar apenas metade de um versículo de um salmo, Paulo declara que tudo que foi escrito no passado era para nós, embora, obviamente, nem tudo tenha valor igual. Jesus mesmo falou sobre "... os preceitos mais importantes da lei" (Mt 23.23).

Terceiroseu foco cristológico. A aplicação do salmo 69 a Cristo, conforme Paulo explica, é um belo exemplo de como o Senhor ressurreto poderia explicar a seus discípulos "... o que constava a respeito dele em todas as Escrituras" (Lc 24.27).

Quarto, seu propósito prático. Não apenas as Escrituras são ca¬pazes de tornar-nos sábios "... para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus" (2Tm 3.15), mas também podem encorajar-nos a ter uma visão que permaneça, de forma que possamos ter esperança, olhando além do tempo para a eternidade, além dos sofrimentos presentes para a glória futura.

Quintosua mensagem divina. O surpreendente fato de que a "perseverança" e o "bom ânimo", que no versículo 4 são atribuídos às Escrituras e no versículo 5 são atribuídos a Deus, pode apenas indicar que é Deus mesmo quem nos encoraja por meio da voz viva das Escrituras. Pois Deus continua a falar por inter¬médio do que ele proferiu.

Fonte: [Ortopraxia]